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Daniela Seraphim

Quais são as fases do luto?



Elisabeth Kübler-Ross foi uma psiquiatra muito renomada que nasceu na Suíça.  Sua adolescência foi marcada pelos horrores da Segunda Guerra Mundial. Por isso, ela decidiu trabalhar na Polônia e na Rússia, ajudando nos primeiros socorros aos necessitados. A partir daí começou o seu interesse pela morte. Kubler-Ross conseguiu identificar a reação psíquica de cada paciente em estado terminal e elaborou as cinco fases do luto. 


Ela apresenta o Modelo de Kübler-Ross. Esse modelo propõe 5 etapas pelas quais as pessoas que passam por perdas atravessam. Sendo elas: Negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Apesar de existirem fases, o luto é um processo individual. Cada luto é singular na medida em que os seres humanos também são. O ideal é que você respeite esse processo e tenha em mente que ele é singular.


Negação


A primeira etapa do processo é denominada de negação, ou seja, o momento em que o fato ainda não parece ser verdadeiro. A notícia de que um ente querido não estará mais disponível fisicamente, seja de forma repentina ou quando já existe risco de iminência de morte, provoca um abalo que pode acompanhar o enlutado em todo o processo, mesmo sendo apenas a primeira fase. Essa fase ocorre bem no momento inicial e pode vir a ser uma defesa psíquica que faz com que o indivíduo acabe negando o problema. É comum a pessoa também não querer falar sobre o assunto nesse primeiro momento.



 Raiva


A segunda fase é a raiva. Kübler-Ross e Kessler (2005) apontam que a raiva não é um sentimento que possua muita lógica nessa situação. Por exemplo, a raiva pode ser direcionada para a equipe de saúde que não conseguiu salvar a vida de seu ente querido; pode ser direcionada para si própria por não conseguir fazer nada para reverter a situação. No caso do fim de um casamento é comum a pessoa sentir raiva de si própria e pode vir a pensar “ah se eu tivesse passado mais tempo com o meu parceiro ou feito algo diferente meu casamento não tinha acabado”, pode ser direcionada para a vida… É comum o indivíduo se sentir injustiçado e inconformado nessa fase.


 Negociação ou barganha


A terceira etapa é da negociação ou barganha, como é mais popularmente conhecida, geralmente ligada a aspectos da religiosidade. Nela, é comum o enlutado dedicar-se a fazer acordos para que as coisas voltem a ser como eram antes. Aqui o sujeito começa a suplicar, a fazer promessas e juramentos de que não fará mais as coisas como antes, de que tudo será diferente. Frases como “Por favor, Deus. Se eu tiver apenas mais uma chance...” são comuns. A culpa geralmente vem acompanhada da barganha, em que o sujeito acredita que poderia ter feito algo diferente para a situação não ter chegado onde está. 


Depressão


A quarta fase das etapas chama-se depressão. Esse é um momento de muita introspecção e isolamento em que a pessoa se retira para seu mundo interno, se isolando e se sentindo impotente. Nesse caso, Kübler-Ross e Kessler (2005) apontam que é muito importante se ter em mente que depressão aqui não deve ser compreendida como um estado patológico, que requeira a intervenção de medicamentos. A depressão, neste momento, deve ser compreendida como uma reação normal e apropriada após a perda de um ente querido. Nesse sentido, para a questão da medicalização do luto, do sofrimento que o sujeito está vivenciando neste momento de sua vida, a medicalização só deverá ser prescrita em casos de extrema necessidade e ainda ser combinada com psicoterapia, para um melhor resultado. 


Aceitação


A quinta e  última fase é a aceitação. Essa fase é caracterizada como a aceitação por parte do enlutado da realidade. Ele passa a aceitar que seu ente querido não está mais entre ele, fisicamente, e que agora as coisas mudaram. É importante estar atento para a ideia de que aceitação não significa que tudo está bem e resolvido. A aceitação propicia que o sujeito passe a encarar sua nova realidade e a dar significado a ela, na medida em que novas relações podem ser estabelecidas, e que se possa aprender a viver sem a pessoa que se foi. “Nós aprendemos a viver sem aquele que se foi. Nós começamos o processo de reintegração, tentando colocar de volta nossos pedaços que haviam sido arrancados” O luto não é superado, ele é integrado às nossas vidas.


Perder alguém querido é uma dor imensa, e cada pessoa lida com o luto de forma única. É importante permitir-se sentir, chorar e lembrar, sem pressa . Nesses momentos, buscar a ajuda de um psicólogo pode ser essencial para que você tenha um espaço seguro para expressar suas emoções, encontrar apoio e receber orientações que ajudem a enfrentar essa jornada difícil. Não hesite em buscar ajuda; cuidar de si mesmo(a) é parte fundamental do processo de cura.


Daniela Seraphim





Referências:


Afonso, S. B. C., & Minayo, M. C. D. S. (2013). Uma releitura da obra de Elisabeth Kubler-Ross. Ciência & Saúde Coletiva, 18, 2729-2732.


Doka, K. J. (1990). The therapeutic bookshelf. Omega:

Journal of Death and Dying, 21, 321-326.


Freud, S. (2011). Luto e Melancolia em Luto e Melancolia (M. Carone, Trad) São

Paulo: Cosac Naify. (Trabalho original publicado em 1917[1915]).


Kreuz, G., & Netto, J. V. G. (2021). Múltiplos olhares sobre morte e luto: aspectos teóricos e práticos. Editora CRV


Kübler-Ross, E.(1998).A Roda da Vida: memórias do viver e do morrer. Rio de Janeiro: Sextante, 1998.


Kübler-Ross, E.(1998),Sobre a morte e o morrer”: 8ª Ed., Martins Fontes. São Paulo.


Kübler-Ross, E; Kessler, D. On Grief and Grievining: Finding The Meaning of Grief Through The Five.Stages of Loss. New York: Scribner, 2005.


Martins M; Lima, P. V. A. Contribuições da Gestalt-Terapia para os enfrentamentos 

das perdas e da morte. Revista IGT na Rede, v.11, nº 20, 2014, p. 3-39. Disponível em: 


Rocha, A. P. C.; Da Fonseca, L. C.; Sales, R.Lopes. Dialogando sobre a morte como forma de prevenção do luto mal elaborado. Revista

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